Tecer ideias, estabelecer conversações e partilhar saberes

sábado, 31 de dezembro de 2011

Ano Novo

Um Bom Ano Novo, onde possamos considerar a possibilidade de solidariamente viver os momentos oferecidos, com o maior capacidade de humanismo possível.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Celebrar o Natal - Padre Elias Serrano


A vivência que hoje se faz do Natal pode levar-nos a colocar a questão de saber se o Natal se tornou uma festa pagã ou se ainda é uma festa cristã. É certo que muitos dos valores do Natal cristão continuam a ser vividos, mas é cada vez maior a presença do espírito da sociedade de consumo.

O Natal para um cristão é, essencialmente, o Natal de Jesus Cristo que veio trazer-nos uma mensagem de Paz e de Amor para todos os homens, sem excluir ninguém. Os sinais exteriores da festa do Natal só têm razão de ser, se não houver exageros, pois estes são uma afronta à pobreza e às dificuldades, hoje, vividas por muitas famílias. A Simplicidade que envolveu o nascimento de Jesus Cristo é um forte apelo a um estilo de vida simples, sem nos deixarmos influenciar demais pelo consumismo. A Paz é uma aposta de todos os dias.

Tem de basear-se no diálogo, na justiça e no respeito pelo outro seja ele quem for. Tem que ser sentida e vivida por nós próprios, para chegar a todos e transformar os nossos ambientes. O Amor implica doação, sacrifício, tolerância, aceitação da diferença e solidariedade. O amor é dar, dar-se e aceitar correr riscos. O amor faz milagres quando nos empenhamos a sério. A Família é um valor fundamental da sociedade e o Natal é a festa ideal para reunir a família e viver a alegria do convívio e da partilha.

Se queremos viver este Natal mais de acordo com a mensagem de Jesus Cristo é preciso comprometermo-nos a:- Dar mais valor à gratuidade e à solidariedade; - Dedicar mais tempo à família e aos amigos; - Dar mais atenção a quem mais precisa e vive ao nosso lado precisa (o desempregado, o doente, o idoso, o solitário, o deprimido, o que não tem amigos, etc,); - Falar mais da mensagem do nascimento de Jesus Cristo à nossa sociedade consumista.

Votos de Boas Festas e um Natal mais verdadeiro para todos.
Imagens ( Felicitació de Nadal de Dani Torrent  / Juan Manuel González Calderón )

Pop Up de Natal

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A Estrela

"Um dia à meia-noite, ele viu-a. Era a estrela mais gira do céu, muito viva, e a essa hora passava mesmo por cima da torre. Como é que não a tinham roubado? Ele próprio, Pedro, que era miúdo, se a quisesse empalmar, era só deitar-lhe a mão. Na realidade, não sabia bem para quê. Era bonita, no céu preto, gostava de a ter. Talvez a pusesse no quarto, talvez a trouxesse ao peito. E daí, se calhar, talvez a viesse a dar à mãe para enfeitar o cabelo. Devia ficar-lhe bem, no cabelo.

De modo que, nessa noite, não aguentou. Meteu-se na cama como todos os dias, a mãe levou a luz, mas ele não dormiu. Foi difícil, porque o sono tinha muita força. Teve mesmo de se sentar na cama, sacudir a cabeça muitas vezes a dizer-lhe que não. E quando calculou que o pai e a mãe já dormiam, abriu a janela devagar e saltou para a rua. A janela era baixa. Mas mesmo que não fosse. Com sete anos, ele estava treinado a subir às oliveiras quando era o tempo dos ninhos, para ver os ovos ou aqueles bichos pelados, bem feios, com o bico enorme, muito aberto. (...)

Assim que se viu na rua, desatou a correr pela aldeia fora até à torre, porque o medo vinha a correr também atrás dele. Mas como ia descalço, ele corria mais. A igreja ficava no cimo da aldeia e a aldeia ficava no cimo de um monte. De modo que era tudo a subir. Mas conseguiu - e agora estava ali. Olhou a estrela para ganhar coragem, ela brilhava, muito quieta, como se estivesse à sua espera. E de repente lembrou-se: e se a porta estivesse fechada?"

Vergílio Ferreira, A Estrela, Quetzal
(na noite em que especialmente procuramos a estrela, capaz de nos iluminar)
Imagem, in Laura David, Star-Collecting

Uma mensagem de Natal

(É um texto que já tem dois anos, mas gostamos especialmente dele. E aqui fica, pelo seu valor, pela dimensão social dos dias que nos correm pelo olhar)


Jesus, presente do nosso Natal

"À nossa volta, desde há muito tempo, somos inundados por inúmeras solicitações para comprarmos presentes. Os melhores. Os mais caros. Os mais...
Como se o Natal se reduzisse aos presentes. Presentes caros num País onde a erradicação da pobreza nos deveria mobilizar. Presentes objectivamente inúteis.  De uma inutilidade gritante. Presentes desnecessários. Presentes falsamente tradicionais.
Feitos em série. E vindos de países em que a mão-de-obra-barata os aproxima de produtos obtidos em regime de escravatura. 
Ontem «não havia lugar para ele na hospedaria» (Lucas 2:7). Hoje, num Natal assim, parece que continua a haver lugar para Ele. E, afinal, o verdadeiro Natal é o de Jesus. Mais. Ele é o verdadeiro presente do nosso Natal.
E, com Jesus presente na nossa vida, podemos viver a nossa vida como presente, na relação com os outros. 
Boas festas de Natal! Com Jesus presente!"

Padre José Manuel, in Revista Lux, Dezembro de 2008
Imagem, A Natividade, de Josefa Óbidos

Elementos decorativos - Centro Escolar




Estrelas de Natal - 6º Ano - EVT




Presépios - Grupo disciplinar de EVT




Atividades de Natal - Figuras Geométricas - 6º ano (EVT)




segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um País lúcido

Não é um País, uma comunidade de pessoas, uma construção de vontades pelo bem comum, uma gestão participada pelos valores da dignidade humana? Não se vive numa democracia, onde todos são necessários, onde se percebeu que a formação individual é um suporte de dinâmica, de aperfeiçoar o futuro? Não foi o século XX português essencialmente esse erro de analfabetismo e de abandono geral, num país cinzento e pobre? E com que pessoas, com que juventude se pretende construir o horizonte dos dias? Olhando para a clarividência de alguns percebemos que temos sábios em demasia. Afinal não passamos de um lugar, "uma empresa", com gente a mais. Percebe-se assim a lucidez da gestão da causa pública.

sábado, 17 de dezembro de 2011

No encantamento do mar azul

Dispensam-se as palavras. Aqui não existe um percurso a atingir, um destino a alcançar. Apenas acordar com o raio matinal, correr ao sol, nadar entre o sal e dançar nas noites de luar as nossas sombras, a nossa respiração. O sentimento e a alma ainda são faróis de iluminação, nestes dias onde a solidão se torna sabedora da nossa finitude. Apenas escutar.
Mar Azul

(Imagem via http://www.sapo.pt)

Prémio Pessoa 2011

Eduardo Lourenço é a figura nomeada para o Prémio Pessoa 2011

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Rainha das Neves de Andersen

(The Snow Queen Fairy Tale, de Hans Christian Andersen, lembrando um conto mágico de um autor eterno, no mundo de fantasia das crianças, nesta aproximação ao Natal e ao seu imaginário). ...

Lenda da Peninha - Diogo Fernandes (5ºF)

"Conta-se que no reinado de D. João III, na terra de Almoínhos-Velhos, havia uma pastora muda que tinha o costume de levar as suas ovelhas a pastar ao cimo da serra. Certo dia, uma das suas ovelhas fugiu, deixando a jovem pastorinha desesperada em busca da tal ovelha.

Após longas buscas observou ao longe uma senhora que trazia consigo a sua ovelha. A pastorinha agradeceu muito da maneira que pôde, visto que esta não conseguia falar. A senhora, aproveitando a ocasião, pediu à pastorinha que lhe desse um pouco de pão. A pastora explicou-lhe, gestualmente, que esse ano tinha sido mau e havia muita fome. A senhora deu-lhe então um conselho:
- Quando chegares a casa chama pela tua mãe e procura pão.

A pastorinha tentou-lhe explicar que isso era impossível, pois para além de ter a certeza de não haver pão em sua casa, ela não podia chamar pela sua mãe, pois era muda. Mas a senhora tanto insistiu que a pastora decidiu fazer o que esta lhe dizia. Ao chegar a casa chamou por sua mãe e a sua voz fez-se ouvir em toda a sua casa.

Contou a história a sua mãe e apressou-se em procurar o pão. E qual não foi o espanto das duas quando dentro de uma arca encontraram pão que chegou para a aldeia inteira.
No dia seguinte, como prova de agradecimento, toda a aldeia subiu à serra e precisamente no sítio onde a pastorinha tinha encontrado a senhora, estava agora uma gruta com a imagem de Nossa Senhora.


Esse local passou a ser sagrado e mais tarde foi aí construída uma capela, conhecida por capela de Nossa Senhora da Peninha".
  
Fonte: cm_sintra.pt
Imagem(via geocaching.com)

A Lenda do Chá - Diogo Fernandes (5ºF)

Diz a lenda do chá que há muito tempo as pessoas morriam muito jovens. O imperador, Shen Nung, ao observar que em determinados locais as pessoas tinham uma vida mais longa, enviou mensageiros para descobrir porquê. Os homens concluíram que aqueles aldeões viviam mais porque tinham o hábito de ferver a água antes de bebê-la. Acreditando que a água fervida preservava a saúde, o imperador estabeleceu uma lei que obrigava toda a população a ferver a água que iriam beber. Certo dia, enquanto um serviçal fervia a água para o imperador, algumas folhas de um arbusto próximo, carregadas pelo vento, caíram na vasilha e, misturadas com a água fervente, exalaram um aroma irresistível. O imperador, atraído, pelo aroma, bebeu a infusão e achou que as folhas haviam sido enviadas como um presente dos deuses. Daí em diante, ele passou  a acrescentar as folhas do arbusto à água quente, criando assim o chá.
Fonte: espie.br
Imagem (via pt.dreamstime.com)

Lenda de Coruche - Diogo Fernandes (5ºF)


Segundo a lenda, o nome "Coruche" está relacionado com D. Afonso Henriques. Vindo de Santarém, o rei tinha como objectivo evitar que os Mouros dali fizessem uma base para a reconquista daquela grande cidade. Chegando ao local, no alto de dois pinheiros, viu pousadas corujas, que ficaram impassíveis diante da agitação dos soldados e do barulho das armas. "Acabámos de chegar à terra das corujas", exclamou então o monarca.
Conta-se também que a Igreja do Castelo foi construída no topo do monte por D. Afonso Henriques que a dedicou a Nossa Senhora do Castelo, a Santa protectora dos soldados. Durante a Guerra Colonial muitos foram os soldados que aí rezaram à Virgem, deixando as suas fotografias e fazendo promessas a pedir para regressarem salvos e capazes de cuidar dos seus filhos.
Fonte: festasdecoruche.com

Hans Christian Andersen (Autor do Mês de Dezembro)

Hans Christian Andersen nasceu em Odense a dois de Abril de 1805 e foi um poeta e escritor dinamarquês que ficou conhecido pelas histórias que escreveu para crianças. Filho de uma família dinamarquesa pobre, recebeu de seu pai, sapateiro de profissão o gosto pelas histórias, incentivando nele a imaginação. 

Fabricou para o filho um pequeno teatro e marionetas, onde Hans Christian Andersen representava peças dos diferentes autores de que gostava. Foi viver para Copenhaga, chegando a ter o apoio do rei, devido ao seu trabalho no Teatro Real. Mais tarde, frequentou a Universidade, sem grande sucesso, afirmando-se como escritor com o romance, O Improvisador. 

É considerado o primeiro escritor a escrever contos e histórias especialmente dedicados para crianças. O seu nome está ligado ao Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. Nos seus livros encontramos a preocupação pelos valores morais, pela procura de padrões de comportamento, onde vislumbramos o confronto entre "pobres" e "ricos", "fracos " e "fortes".

Há nas suas histórias a procura pela igualdade ente o seres humanos. Entre os seus principais livros contam-se os seguintes: O Abeto de Natal, A Pequena Sereis, O Soldadinho de Chumbo, Contos de Fadas, O Patinho Feio ou ainda A Roupa nova do Imperador.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Celebrando a UNICEF

Num mundo ideal seria uma das organizações que teria um papel secundário, mas o mundo como o conhecemos é um lugar difícil, injusto e muitas vezes pouco recomendável, mesmo para os mais novos.  A pensar  nos direitos básicos das crianças, da sua identidade, da sua sobrevivência e da sua participação nas comunidades onde vivem foi criada em 1946 a UNICEF. 

O fim das duas grandes guerras no século XX não dispensou a protecção necessária a dar às crianças. A UNICEF continua com uma missão, a de integrar localmente todas as crianças em dificuldades nas suas sociedades locais. 

A educação de todas as crianças, a sua protecção ao nível da sua habitação, da existência de uma nacionalidade, dos cuidados de saúde básicos e da sua não descriminação, a da sua integração em ambientes familiares e sociais não violentos e a universalização desses direitos são alguns dos objectivos estratégicos da UNICEF. Para os conhecer melhor e poder participar, aceder aqui.

Celebrando o 2º Nobel de Marie Curie

"Um cientista no seu laboratório não é apenas um técnico: é também uma criança a olhar para fenómenos naturais que a impressionam como a um conto de fadas." (1)

Foi há um século que uma mulher muito especial, recebeu o seu segundo prémio Nobel, o da Química, em 1911. É uma figura marcante da ciência do século  XX, mas também da cultura, pois foi a 1ª mulher a ser professora da Universidade de Paris e a primeira a quem foi concedido dois prémios Nobel. É igualmente uma mulher que inicia a abertura e as possibilidades de expressão do feminino na vida social e cultural de uma forma significativa. 

De nacionalidade polaca, chegaria a França para estudar na Universidade de Paris, onde realizou uma licenciatura em Física e Ciências Matemáticas. Professora de Física Geral na Universidade de Paris, faria a sua grande descoberta, o radio, em 1898.

A sua descoberta viria a tornar-se essencial na vida quotidiana das pessoas. Os seus estudos permitiram calcular através do isotopo carbono 14, a idade dos materiais orgânicos. Com o isolamento do radio, do polónio e do tório foi possível chegar à ideia de divisibilidade do átomo. Os tratamentos por radioterapia são devedores das suas descobertas. A esterilização dos utensílios da medicina, as técnicas na conservação de alimentos, ou a produção de cosméticos por baixa irradiação são outras possibilidades de aplicação das suas descobertas. 

(1) Eve Curie Labouisse, Biografia de Marie Curie

sábado, 10 de dezembro de 2011

Declaração Universal dos Direitos do Homem

Memória de John Lennon


"My role in society, as any artist's or poet's role, is to try to express what we all feel. Not to tell the people how to feel. Not as preecher, not as a leader, but as a reflection of us all".

Com um atraso de dois dias, a memória de quem nos ensinou todas as possibilidades que temos para novos dias de esperança, na construção de uma humanidade mais digna, mais feliz. Com ele crescemos e aprendemos a apagar as impossibilidades escritas nos manuais do conformismo. 

Descobrimos palavras e sons novos, onde todas as cores eram possíveis, apenas por reflectir o sonho, o jogo mental de exercitar a imaginação e a inteligência. Com ele, redescobrimos linguagens novas, outras possibilidades, ideias generosas de conquistar o mundo.

Ele praticou connosco eternos "mind games", em tardes de chuva, a comer chocolates, onde por campos de morangos, com música, poesia e sonho, fomos embalados pelas palavras em avenidas de sol brilhante. Deu-nos uma forma diferente de praticarmos essa imaginação, que celebra um campo de oportunidades onde a paz, o amor e a dignidade dos valores nos permitia ser conquistadores dos dias nascentes. Trinta e um anos depois, continuamos a tentar ser, positivamente, reflexivamente o espelho do que somos em cada respiração. Lembraremo-nos sempre do seu eterno legado. Flores à sua memória, à memória de Lennon.
Imagem (via http://www.lastfm.pt)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O território sem memória

As notícias dão-nos a confirmação da absoluta ignorância pela memória, pelo território e já também pelo interesse público das populações e de um País. 

A nossa crise, a mais grave, da qual não saberemos sair é esta falta de decência pelos caminhos onde gerações erigiram "o mais belo e doloroso monumento ao trabalho do povo português", nas palavras de Jaime Cortesão. 
Sem real valor económico, a indústria do betão ameaça o valor do Alto Douro Vinhateiro como património da Humanidade. Em Lisboa, desconhece-se o perfume das amoras e os tons do coração, quando pessoas descem as colinas entre o sol dourado. 

Um filme de Jorge Pelicano, sobre o que não sabemos ser, essa forma esquecida e inexistente de cidadania, onde o valor humano é um luxo a que os brurocratas estão dispensados.

Memória de Florbela Espanca


Ser Poeta


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém  e de Além Dor!


É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja.
É ter garras e asas de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim...
é condensar o mundo num só grito!


E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim...
E dizê-lo cantando a toda a gente!


(Na memória de Florbela Espanca, que há pouco mais de oitenta anos, deixou de acreditar no papel de fuga que as palavras lhe davam e nas suas frágeis costuras.)
in Florbela Espanca, Obra Poética
Imagem, in aguarelas.blogs.sapo.pt

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Gonçalo Ribeiro Teles

"É a paisagem que dá coesão ecológica ao espaço que habitamos. Os responsáveis têm medo da paisagem porque consideram a paisagem como qualquer coisa de decorativo e não de profundo. Se a tivessem contrariavam ideias setoriais sobre o uso do território. Essencialmente, vivem muito de visões tecnocráticas. Aceitam exclusivamente o crescimento económico com base em tecnologias, e nunca vêem de fato onde é que todas essas realidades novas se intercalam com a espécie humana. Porque a paisagem é uma criação da espécie humana, com o concurso da Natureza" (1)

A sua clarividência sobre a importância do território, do espaço, das culturas, do homem, das pedras e das árvores dão-nos a sabedoria que contínuos governos esquecem. Uma homenagem na Fundação Gulbenkian, amanhã para ouvir um homem em que as palavras ainda têm significado. A sua respiração pelos campos, pelos caminhos de pó e amoras, pelos rios confirma-nos como a ignorância tem presidido à gestão do espaço público. É uma figura que tem feito imenso por uma cidadania ativa, por onde todos sejam respeitados no território e na memória. 
Para mais informações aceder na página da Fundação Calouste Gulbenkian


(1) Entrevista, RTP 2, Agosto de 2011

Dia Mundial do Voluntariado

"Cada um de nós representa o resto da Humanidade"

O voluntariado é uma das formas que na sociedade atual, desfigurada pelas injustiças e desníveis sociais, económicos e culturais, de se refundar uma ideia nova de cidadania. Atitude de boa vontade, de descoberta do outro e de diferenciação nas abordagens que fazemos aos que estão à nossa volta. 

Caminho que permite construir e trazer para o diálogo cooperativo, uma partilha de vontades e de transformação do que nos rodeia. Como qualquer exercício de cidadania é sempre uma recompensa pessoal pelo que se ganha na experiência, e no que conquista o coração.A Biblioteca Escolar pode também ser um espaço de promoção de uma participação empenhada, que é um valor de ação se for solidária ao que a rodeia.

A seu tempo aqui daremos conta de algumas iniciativas neste domínio. Abaixo páginas, por onde se promovem estes valores de cidadania ativa.
(1) Jaume Sanllorente, Sorrisos de Bombaim
(Imagem, www.diadovoluntarrio.org.br)

Popville

Popville é um interessante e original projeto que nos permite ler o espaço e o modo como o tempo, "esse grande escultor", altera e transforma os elementos por onde a paisagem humana se vai construindo. Escrito por Joy Sorman e ilustrado de um modo magnífico por Anouck Boisrobert e Louis Rigaud, a leitura de Popville dá nos essa viagem pelas formas das cidades, a sua construção e o modo  como o tempo as transforma.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O território como expressão

"Motherland cradle me
Close my eyes
Lullaby me to sleeep
Keep me safe
Lie with me
Saty beside me
Don't go, don't you go" (Natalie MerchantMotherland)

1º De Dezembro de 1640

Hoje é o Dia 1 de Dezembro. É feriado nacional. Comemora-se a Restauração da Independência portuguesa, numa manhã de 1640, levantada contra a austeridade filipina e o seu império de vastos mares. Parece que foi a última vez que o fizemos. Muito preocupante.
Sem território, sem valores de memória e com a soberania à venda aos burocratas, caminhamos para uma ideia de germanização da Europa, suportada num conjunto de credores, alimentados por directórios sem legitimação democrática.
O fim deste feriado, é um sinal preocupante. Revela o desprezo pela identidade e a desistência da soberania da cada povo, das suas ideias individuais. O microfone no centro do mundo, a globalização é outra maneira de repetir os trágicos erros do século XX, por onde a voz de cada "aldeia", a conversação de povos está reduzida aos títulos creditados pelos mercados.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Adormecer a noite

"Já viajámos de ilhas em ilhas
já mordemos fruta ao relento
repartindo esperanças e mágoas
por tudo o que é vento" (...)
Sérgio Godinho e Ivan Lins, Que Há-de ser de nós

Memória de Pessoa

"E o meu olhar é nítido como um girassol. (...)
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez 
para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)" (1)


(No dia do desaparecimento físico do poeta que pelo seu universalismo e humanismo se colocou muito acima do seu tempo vivido. É o grande poeta da língua portuguesa, inventou-a em certo sentido  e foi ainda o filósofo das partidas esquecidas e dos sonhos de conquista do infinito universo. Chama-se Fernando Pessoa, andou por aqui durante os milénios dos seus sohos e faz hoje setenta e seis anos que adormeceu. Continua a incomodar o país de bruma e o real tão feito de aparentes compromissos de verdade e imaginação.)

(1) Fernando Pessoa, Obras Completas
Imagem, amybates.com

No território da Infância

No 176º aniversário do nascimento de Mark Twain, uma recordação de dois livros essenciais (As Aventuras de Tom Sawyer e As Aventuras de Huckleberry Finn), por onde caminhamos por palavras e ideias que são uma declaração muto especial do que é a infÂncia como território. Entre o sonho da descoberta, a aventura permanente num mundo em mudança tecnológica, com as dúvidas e hesitações do futuro.

(Doodle da Google para a celebração do 176 aniversário de Mark Twain)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cidades de Cor - Andreia Guarda (CRIC)


Menção Honrosa no IV Concurso de Escultura, Pintura e Fotografia 
 (Via Página do Facebook do CRIC)

Encontros para a Inclusão

(Via Página do Facebook do CRIC)

Encontro com as palavras

Editado pela Esfera do Caos tem apresentação na Fnac do Colombo, no próximo dia 3 de Dezembro, sábado, pelas dezassete horas, uma colectânea de novos poetas portugueses, onde será feita a apresentação do livro Palavras Nossas.

Dia da Pessoa com Deficiência

Dia da Pessoa com Deficiência - 3 de Dezembro
Para assinalar a data,  a professora Vera Nogueira tem estado a dinamizar, nos dias 28, 29 e 30 de novembro, na Biblioteca da Escola Secundária, um conjunto de ações de sensibilização para importância de reconhecer a diferença  visual, cognitiva, auditiva e motora.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Esperança

"Que o tempo que nos deste seja seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça" (1)


(Neste tempo de dúvidas, é sempre reconfortante encontrar a esperança no olhar, como quem acredita que é possível construir uma sociedade mais justa.)

(1) Sophia, "A Paz sem vencedores nem vencidos",in Obra Poética
Imagem, (Eleições no Egipto, in http://www.publico.pt/)

Memória de Erico Veríssimo

"Uma noite me disseste que Deus não existe, que em mais de vinte anos de vida não o pudeste encontrar. Crê que nisso se manifesta a magia de Deus. Um ser que existe mas é invisível para uns, e mal perceptível para outros e de uma nitidez maravilhosa para os que nasceram simples ou para os que adquiriram simplicidade por meio do sofrimento ou da profunda compreensão da vida. (...)

Quero que abras, os olhos, Eugénio, que acordes enquanto é tempo. Peço-te que pegues na minha Bíblia, que está na estante dos livros, perto do rádio e leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar nesse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo, que não trabalham, nem fiam e no entanto nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles. (...) É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Mas precisamos dar um sentido humano  às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos tiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do Céu. (...)

Há na Terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com os do amor e da persuasão. Considera vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de acção e não um puro contemplativo. Quando falo em conquista, quero dizer a conquista de uma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, do espírito de cooperação. 

E quando falo em aceitar a vida não me refiro a uma aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do Mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há-de levar. Precisamos, portanto de criaturas de boa vontade."

Erico Veríssimo, Olhai os Lírios do Campo
(Memória de um grande escritor de língua portuguesa, de nacionalidade brasileira e cuja memória física já leva trinta e seis anos. Mas tem uma obra notável , a descobrir pela sua humanidade, pela reflexão do que nos torna humanos, em descrições de grande significado sobre o real e o que podemos construir).

Um carta para Rómulo de Carvalho

(Deixamos uma carta a Rómulo de Carvalho, escrita pela filha, Cristina Carvalho e que nos dá aquilo que também a nós, sempre nos pareceu a sua grandeza, entre a humildade e a simplicidade, a sabedoria de quem sabia escrever caminhos novos. Aqui fica uma página para conhecer o espólio diverso de materiais, a obra e a figura de um homem acima do tempo, pela universalidade das suas ideias.)

"I - Conhecemo-nos no dia dez de Novembro de 1949. Eu, de olhar embaciado e turvo, sinto-o mas não o percebo. Ele, de olhar sábio e transparente, percebe-me mas não me sente. Está proibido de me tocar. O nascimento foi difícil, muito difícil, doloroso, angustiado. Passaram uns anos até sozinha conseguir alcançar-lhe o colo (...)

Nessa altura eu via o meu pai enorme, alto, lindíssimo, e, no seu rosto, do que melhor me lembro eram os olhos grandes e atentos. Nunca foi preciso falar muito. Ainda hoje não é preciso falar muito. Os seus olhos continuam a brilhar, a aceitar e aperceber o incompreensível. (...)

II -  Durante todos estes anos da minha vida em que o tenho acompanhado, apercebo-me realmente do sentido universal da sua poesia, daquela que li nos seus livros e que se  revela a todo o momento da nossa convivência através das palavras mais simples, dos sinais mais discretos e essa é, de facto, a chave que abre todas as portas: aos meus olhos, o seu recado é duma simplicidade que me confunde e faz pensar; a sua atitude perante os acontecimentos da vida é incrivelmente modesta, a ironia é deslumbrante e nunca incómoda. O seu pensamento profundamente humanista, a percepção antecipada de certos acontecimentos, a inteligência limpa, livre, o olhar penetrante e atento a tudo e a todos, as lições tão claras que ainda hoje oferece aos netos, revelam-me uma personalidade rara, que felizmente, muitos conhecem. (...)

Por isso calculo que, se António Gedeão fosse vivo, continuaria a escrever a sua poesia encostado ao tal armário alto, talvez hoje com uma caneta esferográfica, mas sempre numa folha de papel. Rómulo de Carvalho, meu pai, que no próximo dia vinte e quatro de Novembro completa noventa anos, este sim, este homem continua a viver deslumbrado com a ciência e com a técnica que se desenvolveu neste século , sonhando com o que mais aí virá."

Nota actual (de 24 de Novembro de 2011) - meu pai morreu no dia 19 de Fevereiro do ano de 1997.

Cristina Carvalho
(excertos da carta escrita em 1996 no Jornal de Letras), in http://blogs.publico.pt/dererumnatura/

domingo, 27 de novembro de 2011

O fado

No dia do reconhecimento do fado como património imaterial da Humanidade pela Unesco, o som da voz que mais alto levou o imaginário desta canção popular, que nos dá muito do que é a alma de um povo, entre a esperança e o desencanto. É uma nova possibilidade de reconhecer as formas de expressão de um povo, de uma língua e de uma cultura, mesmo que muitas vezes amarrada ao fatalismo de uma sociedade incapaz de sonhar, bloqueada pelos estranhos caminhos por onde é conduzida. 


E é uma esperança dos novos caminhos que pela arte poderão dar novas possibilidades de expressão, como o fizeram o flamenco ou o tango. A originalidade de um povo e de um território são a sua garantia de futuro, a memória trabalhada para a sua visibilidade e capacidade de expressão. 


Viabilidade como sociedade, mas também como possibilidade de exportar os seus valores e deles fazer valia económica. Pois a cultura, ao contrário do que muitas vezes se assiste na governação, é uma pátria, mas também um recurso. O único que oferece originalidade e permite a conversação de Babel, num tempo demasiado globalizado e por isso pouco livre.

Memória de Eça

O Partido Nacional  retomaria então o poder, e Alípio Abranhos que, agora, era Governo, Influência, Força, Lei, passaria a ser o deputado loquaz de uma oposição estéril, pois que ninguém acreditava que os Reformadores - tendo subido ao poder por um acaso, vissem esse acaso repetir-se. Os Reformadores eram pois, na frase clássica, "um partido sem futuro". O próximo ministério Nacional havia de colar-se às cadeiras do poder durante anos. E poderia, durante anos, Alípio Abranhos ver as suas faculdades, o seu génio, gastarem-se na retórica hostil e rancorosa da oposição?(...)

Estas considerações pesou-as bem Alípio Abranhos nessas horas da tarde em que passeava solitário na alameda de loureiros, e quando em princípios de Novembro voltou  a Lisboa, tinha decidido, no segredo da sua alma, passar-se com as suas armas de eloquência e a sua bagagem de saber para o campo do inimigo. Ia fazer-se oposição!(...)

Mas havia entre os Reformadores e os Nacionais ideias opostas? Abandonava Alípio Abranhos  ideias queridas, para ir, por interesses grosseiros, defender ideias detestadas? Não. As ideias que servia entre os Reformadores ia servi-las entre os Nacionais. (...) Em política, o que eram os Reformadores? Conservadores institucionais. E os Nacionais? Idem.

Não desejavam ambos a estrita aplicação da Constituição, só da Constituição, de toda  a Constituição? - Desejavam-na ambos, ardentemente. (...) Não tinham ambos um nobre rancor aos princípios revolucionários? Um rancor nobilíssimo. E em questões de Instrução, de Imprensa, de Polícia, não tinham ambos as mesmas óptimas ideias? Absolutamente as mesmas. Não eram ambos patriotas? Fanaticamente (..)

Passou pois para a oposição o nosso grande Alípio, e com que prodigiosa impressão esse passo foi recebido no País, di-lo a História Constitucional."

(A memória de uma grande figura da História Contemporânea, que soube compreender as estruturas mentais para lá da espuma da praia. Um escritor e um sociólogo, indispensável à compreensão do Portugal contemporâneo. Voltaremos a ele brevemente, como autor do mês na Biblioteca.)

(1) Eça de Queiroz, O Conde D'Abranhos, págs. 299-300
Imagem, in http://www.feq.pt/

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

António Gedeão

"Venho da terra assombrada, 
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder. (...)

Que eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza 
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar
Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

António Gedeão, "Fala do Homem Nascido", In Teatro do Mundo
(Imagem, Murat Aslankara, Water Game)