Ser Poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja.
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim...
é condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim...
E dizê-lo cantando a toda a gente!
(Na memória de Florbela Espanca, que há pouco mais de oitenta anos, deixou de acreditar no papel de fuga que as palavras lhe davam e nas suas frágeis costuras.)
in Florbela Espanca, Obra Poética
Imagem, in aguarelas.blogs.sapo.pt
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