É uma data conhecida de uma imensa catástrofe natural. Mas é muito mais que um acontecimento sobre a destruição da Lisboa setecentista. Ela afirmou na sociedade portuguesa outros terramotos.
O de Pombal que se afirmou a partir do terramoto, uma nova ideia de monarquia, de Estado que sobre uma sociedade impreparada se afirma em dimensões excessivas. A da criação em novos formatos de que o outro, as suas ideias não podem ser integradas. O imenso Estado que temos radica nesta ideologia de disciplinar opositores e converter a diferença, incapaz de ser coerente com ela e as suas formas de expressão. E depois a reescrita da memória.
A criação das narrativas do poder por onde circulam as memórias legitimam para "controlar não só o que se lembra e a forma como se lembra, como também o que se esquece e a forma como se esquece". Mesmo com o crédito do iluminismo, o poder de Estado de Pombal pôde sempre tentar delimitar o tempo e iniciá-lo com a sua governação.
Num tempo global, onde há quem acredite que devemos ter uma única forma planetária de nos exprimirmos, é bom lembrar que são nas múltiplas aldeias que se exprime o valor individual. O homem novo é sempre uma promessa perigosa de quem se esqueceu de estudar a espuma das ondas que pela memória nos dá o que é singular ao homem e à sua natureza.
Rui Tavares, O pequeno livro do grande terramoto, pág. 148
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