Manuel António Pina
1943-2012
Os poetas não morrem!
No dia em que se comemora o Dia Internacional das Bibliotecas Escolares, publicamos um poema de sua autoria, como forma singela de homenagear quem tanto contribuiu para a nossa Literatura.
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NA BIBLIOTECA
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras
palavras
diante do poema, que
chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros
alexandrinos.
Na biblioteca, em
cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas
mortas em que
a casa se recolheu
também
virada para o lado de
dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que
dormiram as coisas
antes da chegada dos
deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de
suportar sozinho a vida, canta.
in Poesia, Saudade da Prosa - uma antologia pessoal, Assírio
& Alvim, 2011
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