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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Memória de Adriano

"Quase todos desconhecem igualmente a sua justa liberdade e a sua verdadeira servidão. (...) O que me interessava não era uma filosofia de homem livre, mas uma técnica: queria encontrar a charneira em que a nossa vontade se articula ao destino, onde a disciplina secunda a natureza em vez de a refrear. (...) A vida era para mim como um cavalo a cujos movimentos nos unimos, mas depois de o ter ensinado o melhor possível. (...)

Porque espero pouco da condição humana, os períodos de felicidade, os progressos parciais, os esforços de recomeço e de continuidade parecem-me outros tantos prodígios que compensam quase a massa enorme de males, dos fracassos, da incúria e do erro. (...) As palavras liberdade, humanidade, justiça reencontrarão aqui e ali o sentido que temos tentado dar-lhes". (...)

Alguns homens pensarão, trabalharão e sentirão como nós; ouso contar com esses continuadores colocados a intervalos irregulares dos séculos, com essa intermitente imortalidade." (1)

(Recordar entre o escultor do tempo, uma memória, uma mensagem que nos dá o valor das ideias que pelo tempo que vivemos parecem pouco relevantes no quotidiano. Assentes no valor utilitário, nos dias que correm ouvimos declarações de esquecimento pela dignidade, por onde a preocupação solidária se afasta do coração humano. Adriano, no princípio da era cristã, um imperador, que ainda nos dá a sabedoria do que significa o governo da cidade, como espaço de sociedade).
(1) Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano

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