Tecer ideias, estabelecer conversações e partilhar saberes

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Adormecer a noite

"Já viajámos de ilhas em ilhas
já mordemos fruta ao relento
repartindo esperanças e mágoas
por tudo o que é vento" (...)
Sérgio Godinho e Ivan Lins, Que Há-de ser de nós

Memória de Pessoa

"E o meu olhar é nítido como um girassol. (...)
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez 
para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)" (1)


(No dia do desaparecimento físico do poeta que pelo seu universalismo e humanismo se colocou muito acima do seu tempo vivido. É o grande poeta da língua portuguesa, inventou-a em certo sentido  e foi ainda o filósofo das partidas esquecidas e dos sonhos de conquista do infinito universo. Chama-se Fernando Pessoa, andou por aqui durante os milénios dos seus sohos e faz hoje setenta e seis anos que adormeceu. Continua a incomodar o país de bruma e o real tão feito de aparentes compromissos de verdade e imaginação.)

(1) Fernando Pessoa, Obras Completas
Imagem, amybates.com

No território da Infância

No 176º aniversário do nascimento de Mark Twain, uma recordação de dois livros essenciais (As Aventuras de Tom Sawyer e As Aventuras de Huckleberry Finn), por onde caminhamos por palavras e ideias que são uma declaração muto especial do que é a infÂncia como território. Entre o sonho da descoberta, a aventura permanente num mundo em mudança tecnológica, com as dúvidas e hesitações do futuro.

(Doodle da Google para a celebração do 176 aniversário de Mark Twain)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cidades de Cor - Andreia Guarda (CRIC)


Menção Honrosa no IV Concurso de Escultura, Pintura e Fotografia 
 (Via Página do Facebook do CRIC)

Encontros para a Inclusão

(Via Página do Facebook do CRIC)

Encontro com as palavras

Editado pela Esfera do Caos tem apresentação na Fnac do Colombo, no próximo dia 3 de Dezembro, sábado, pelas dezassete horas, uma colectânea de novos poetas portugueses, onde será feita a apresentação do livro Palavras Nossas.

Dia da Pessoa com Deficiência

Dia da Pessoa com Deficiência - 3 de Dezembro
Para assinalar a data,  a professora Vera Nogueira tem estado a dinamizar, nos dias 28, 29 e 30 de novembro, na Biblioteca da Escola Secundária, um conjunto de ações de sensibilização para importância de reconhecer a diferença  visual, cognitiva, auditiva e motora.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Esperança

"Que o tempo que nos deste seja seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça" (1)


(Neste tempo de dúvidas, é sempre reconfortante encontrar a esperança no olhar, como quem acredita que é possível construir uma sociedade mais justa.)

(1) Sophia, "A Paz sem vencedores nem vencidos",in Obra Poética
Imagem, (Eleições no Egipto, in http://www.publico.pt/)

Memória de Erico Veríssimo

"Uma noite me disseste que Deus não existe, que em mais de vinte anos de vida não o pudeste encontrar. Crê que nisso se manifesta a magia de Deus. Um ser que existe mas é invisível para uns, e mal perceptível para outros e de uma nitidez maravilhosa para os que nasceram simples ou para os que adquiriram simplicidade por meio do sofrimento ou da profunda compreensão da vida. (...)

Quero que abras, os olhos, Eugénio, que acordes enquanto é tempo. Peço-te que pegues na minha Bíblia, que está na estante dos livros, perto do rádio e leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar nesse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo, que não trabalham, nem fiam e no entanto nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles. (...) É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Mas precisamos dar um sentido humano  às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos tiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do Céu. (...)

Há na Terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com os do amor e da persuasão. Considera vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de acção e não um puro contemplativo. Quando falo em conquista, quero dizer a conquista de uma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, do espírito de cooperação. 

E quando falo em aceitar a vida não me refiro a uma aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do Mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há-de levar. Precisamos, portanto de criaturas de boa vontade."

Erico Veríssimo, Olhai os Lírios do Campo
(Memória de um grande escritor de língua portuguesa, de nacionalidade brasileira e cuja memória física já leva trinta e seis anos. Mas tem uma obra notável , a descobrir pela sua humanidade, pela reflexão do que nos torna humanos, em descrições de grande significado sobre o real e o que podemos construir).

Um carta para Rómulo de Carvalho

(Deixamos uma carta a Rómulo de Carvalho, escrita pela filha, Cristina Carvalho e que nos dá aquilo que também a nós, sempre nos pareceu a sua grandeza, entre a humildade e a simplicidade, a sabedoria de quem sabia escrever caminhos novos. Aqui fica uma página para conhecer o espólio diverso de materiais, a obra e a figura de um homem acima do tempo, pela universalidade das suas ideias.)

"I - Conhecemo-nos no dia dez de Novembro de 1949. Eu, de olhar embaciado e turvo, sinto-o mas não o percebo. Ele, de olhar sábio e transparente, percebe-me mas não me sente. Está proibido de me tocar. O nascimento foi difícil, muito difícil, doloroso, angustiado. Passaram uns anos até sozinha conseguir alcançar-lhe o colo (...)

Nessa altura eu via o meu pai enorme, alto, lindíssimo, e, no seu rosto, do que melhor me lembro eram os olhos grandes e atentos. Nunca foi preciso falar muito. Ainda hoje não é preciso falar muito. Os seus olhos continuam a brilhar, a aceitar e aperceber o incompreensível. (...)

II -  Durante todos estes anos da minha vida em que o tenho acompanhado, apercebo-me realmente do sentido universal da sua poesia, daquela que li nos seus livros e que se  revela a todo o momento da nossa convivência através das palavras mais simples, dos sinais mais discretos e essa é, de facto, a chave que abre todas as portas: aos meus olhos, o seu recado é duma simplicidade que me confunde e faz pensar; a sua atitude perante os acontecimentos da vida é incrivelmente modesta, a ironia é deslumbrante e nunca incómoda. O seu pensamento profundamente humanista, a percepção antecipada de certos acontecimentos, a inteligência limpa, livre, o olhar penetrante e atento a tudo e a todos, as lições tão claras que ainda hoje oferece aos netos, revelam-me uma personalidade rara, que felizmente, muitos conhecem. (...)

Por isso calculo que, se António Gedeão fosse vivo, continuaria a escrever a sua poesia encostado ao tal armário alto, talvez hoje com uma caneta esferográfica, mas sempre numa folha de papel. Rómulo de Carvalho, meu pai, que no próximo dia vinte e quatro de Novembro completa noventa anos, este sim, este homem continua a viver deslumbrado com a ciência e com a técnica que se desenvolveu neste século , sonhando com o que mais aí virá."

Nota actual (de 24 de Novembro de 2011) - meu pai morreu no dia 19 de Fevereiro do ano de 1997.

Cristina Carvalho
(excertos da carta escrita em 1996 no Jornal de Letras), in http://blogs.publico.pt/dererumnatura/

domingo, 27 de novembro de 2011

O fado

No dia do reconhecimento do fado como património imaterial da Humanidade pela Unesco, o som da voz que mais alto levou o imaginário desta canção popular, que nos dá muito do que é a alma de um povo, entre a esperança e o desencanto. É uma nova possibilidade de reconhecer as formas de expressão de um povo, de uma língua e de uma cultura, mesmo que muitas vezes amarrada ao fatalismo de uma sociedade incapaz de sonhar, bloqueada pelos estranhos caminhos por onde é conduzida. 


E é uma esperança dos novos caminhos que pela arte poderão dar novas possibilidades de expressão, como o fizeram o flamenco ou o tango. A originalidade de um povo e de um território são a sua garantia de futuro, a memória trabalhada para a sua visibilidade e capacidade de expressão. 


Viabilidade como sociedade, mas também como possibilidade de exportar os seus valores e deles fazer valia económica. Pois a cultura, ao contrário do que muitas vezes se assiste na governação, é uma pátria, mas também um recurso. O único que oferece originalidade e permite a conversação de Babel, num tempo demasiado globalizado e por isso pouco livre.

Memória de Eça

O Partido Nacional  retomaria então o poder, e Alípio Abranhos que, agora, era Governo, Influência, Força, Lei, passaria a ser o deputado loquaz de uma oposição estéril, pois que ninguém acreditava que os Reformadores - tendo subido ao poder por um acaso, vissem esse acaso repetir-se. Os Reformadores eram pois, na frase clássica, "um partido sem futuro". O próximo ministério Nacional havia de colar-se às cadeiras do poder durante anos. E poderia, durante anos, Alípio Abranhos ver as suas faculdades, o seu génio, gastarem-se na retórica hostil e rancorosa da oposição?(...)

Estas considerações pesou-as bem Alípio Abranhos nessas horas da tarde em que passeava solitário na alameda de loureiros, e quando em princípios de Novembro voltou  a Lisboa, tinha decidido, no segredo da sua alma, passar-se com as suas armas de eloquência e a sua bagagem de saber para o campo do inimigo. Ia fazer-se oposição!(...)

Mas havia entre os Reformadores e os Nacionais ideias opostas? Abandonava Alípio Abranhos  ideias queridas, para ir, por interesses grosseiros, defender ideias detestadas? Não. As ideias que servia entre os Reformadores ia servi-las entre os Nacionais. (...) Em política, o que eram os Reformadores? Conservadores institucionais. E os Nacionais? Idem.

Não desejavam ambos a estrita aplicação da Constituição, só da Constituição, de toda  a Constituição? - Desejavam-na ambos, ardentemente. (...) Não tinham ambos um nobre rancor aos princípios revolucionários? Um rancor nobilíssimo. E em questões de Instrução, de Imprensa, de Polícia, não tinham ambos as mesmas óptimas ideias? Absolutamente as mesmas. Não eram ambos patriotas? Fanaticamente (..)

Passou pois para a oposição o nosso grande Alípio, e com que prodigiosa impressão esse passo foi recebido no País, di-lo a História Constitucional."

(A memória de uma grande figura da História Contemporânea, que soube compreender as estruturas mentais para lá da espuma da praia. Um escritor e um sociólogo, indispensável à compreensão do Portugal contemporâneo. Voltaremos a ele brevemente, como autor do mês na Biblioteca.)

(1) Eça de Queiroz, O Conde D'Abranhos, págs. 299-300
Imagem, in http://www.feq.pt/

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

António Gedeão

"Venho da terra assombrada, 
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder. (...)

Que eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza 
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar
Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

António Gedeão, "Fala do Homem Nascido", In Teatro do Mundo
(Imagem, Murat Aslankara, Water Game)

Dia Nacional da Cultura Científica

Raras vezes a leitura de um livro nos concede a respiração da liberdade de quem se guiou pela dignidade e pela beleza. A leitura, fracção limitada das palavras por onde respiramos docemente à grandeza humilde de um ser de excepção. O renascimento nas ideias,  a experimentação material do real em lições de simplicidade e saber.

Se as palavras podem transcrever o real, poucas vezes elas nos deram o saber natural de um mestre. A palavra hoje está perdida, pois há demasiados sábios no horizonte, mas Rómulo foi alguém que nos soube conduzir pela curiosidade, encaminhar pela dúvida que renasce na esperança de criar sorrisos e palavras novas. O conhecimento e o saber como meditação e testemunho da nossa humanidade é a memória que ele nos deixa, enquadrada numa ética natural de uma raridade que nos contempla e nos engrandece.

Ser um homem de cultura, do saber que procura compreender, sem as pretensões da intelectualidade, ser um "jovem" na atitude, na contemplação, na criação de ideias, foi o  seu grande testemunho.É uma lição contínua. "perpétua", disponível aos que quiserem aprender. Memórias de Rómulo de Carvalho é um livro delicioso, pelo testemunho, mas sobretudo porque realiza o maior desafio de um livro, estabelecer uma conversação.

Memória de Rómulo de Carvalho


Cartaz reelaborado, a partir de uma ideia da BE/CRE de Vila Pouca de Aguiar

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Adormecer a noite

LHASA from sönük yakut on Vimeo.

Zona de conforto

"Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e renúncia
Até a voz do mar se torna exílio

E a luz que nos rodeia é como grades." (Sophia, Exílio)

(Os gestos já não garantem a coerência das palavras e o esforço da decência é um luxo que já não cabe na gestão do espaço público. A transparência "dos homens máquina" já nos dá esta ausência de beleza nos dias, por onde já caminha pouca humanidade, por onde o pensamento já pouco sente). 

Celebrar a poesia (Nascimento de Herberto Helder)


Súmula

"Sei que as rosas imaginam as suas
próprias rosas.
as pessoas imaginam os seus próprios campos de rosas. E às vezes estou na frente
dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.
(...)
Ter amoras, folhas verdes, espinhos
com pequena treva por todos os cantos.
Nome do espírito como uma rosapeixe.
(...)
Sou uma devastação inteligente.
Com malmequeres fabulosos.
Ouro por cima.
A madrugada ou a noite triste tocadas
em trompete. Sou
alguma coisa audível, sensível.
Um movimento.
Cadeira congeminando-se na bacia,
feita o sentar-se.
Ou flores bebendo a jarra.
O silêncio estrutural das flores.
E a mesa por baixo
a sonhar."


Herberto Helder, in Ou o Poema Contínuo, Assírio&Alvim

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Outras leituras

Dia, 23, no Bartô, ao Chapitô, a voz aos leitores, "aos verdadeiros protagonistas de todos os dramas, comédias, tragédias. poemas, teses e profecias". Uma viagem,  do escritor ao leitor, numa sessão dedicada às escolhas de cada um, por onde se "abrace a força motriz da arte e da vida".

domingo, 20 de novembro de 2011

Dia do não fumador

Dia da Filosofia

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dia Mundial da Filosofia (Profs Gil Malta e Margarida Novais)


Porque o homem de todas as idades tem que reapreender a ver o mundo, porque o sentido da existência é uma procura constante, porque o amor à verdade deve ser permanente, a Unesco instituiu na terceira 5ª feira de novembro, o Dia Internacional da Filosofia.
Na escola secundária os professores desta disciplina comemoraram este dia, com a realização das seguintes atividades:

- Os alunos do 11º ano, realizaram ações de sensibilização sobre o campo de estudo da filosofia e algums jogos de lógica nas turmas de 9º ano.
- Na sala de convívio estiveram disponíveis alguns dilemas lógicos.
- Foram ainda afixados cartazes com pensamentos filosóficos, e na BE esteve disponível uma exposição de livros sobre Filosofia, algumas biografias sobre filósofos e ainda alguns livros que promovem o pensamento reflexivo.

Com estas atividades pretendeu-se atingir os seguintes objectivos:
- Reflectir sobre a importância da Filosofia no mundo contemporâneo;
- Mostrar à comunidade escolar alguns trabalhos/actividades desenvolvidos na disciplina de Filosofia;
- Reconhecer o contributo específico da Filosofa para o desenvolvimento de um pensamento informado, metódico e crítico e para a formação de uma consciência atenta, sensível e eticamente responsável.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Adormecer a noite

Dia Mundial da Filosofia

"É para todos os dias que precisas de educar e afinar a alma; é para te sentires  o mesmo em todos os minutos que deves dominar os impulsos e ser obstinadamente calmo ante as dificuldades e os perigos,  as alegrias e o triunfos" (1)

Neste dia mundial da filosofia, lembrar o papel essencial daquilo que alguns chamaram os grandes livros, os que transportam o pó do tempo e que marcaram a aventura humana. Os que marcaram a civilização ocidental e que foram o suporte de uma educação que a cultura anglosaxónica chamou "gentlemanship" e que baseava a construção social numa formação de carácter, indispensável a uma sociedade de Direito.
Vivemos afastados da ligação Tempo, como linha de continuidade entre o passado e o futuro, com deslumbramentos tecnológicos, onde um Estado tecnocrático marginaliza a memória e onde a expressão pessoal, se torna incapaz de recuperar a intimidade, base da civilização. 
Consideramos apenas válido a actividade meramente utilitária.Há um desprezo claro por áreas como o Grego, o Latim, a História e a Filosofia como zonas de conhecimento. A dispensabilidade  do que não é materialmente lucrativo tem conduzido à destruição de um tipo de sociedade, por onde as vozes de "uma eternidade intermitente", nas palavras de Yourcenar têm mais dificuldades em se exprimir e nos dar a sua voz.
É sobre tudo isto de que nos fala Savater. O significado, as dúvidas do crescimento, a ética, os caminhos do possível, a humanidade que se contradiz em gestos quotidianos, o carácter que nos faz distinguir o bem  e o mal são múltiplos os temas que nos levam por um pequeno, mas fascinante livro. Neste dia mundial da filosofia é uma sugestão, não só para jovens, mas para todos que procuram exprimir-se na construção de um pensamento que nos pode fazer optar entre o coração ou as palavras.


(1) Agostinho da Silva, Ir à Índia sem abandonar Portugal e outros textos

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Memória de José Saramago

"(...) Levantamos um punhado de terra e apertemo-la
nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno,
a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até
aos ossos dela.

Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raíz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste."

José Saramago, Na ilha por vezes habitada, in Provavelmente Alegria

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Biografia de Matilde Rosa Araújo - Rute Pires (7ºG)


Matilde Rosa Lopes de Araújo, nasceu em 1921, em Lisboa. Fez os seus estudos liceais com professores particulares, licenciou- se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da universidade clássica de Lisboa em 1945.
Teve ainda uma apurada formação musical, com frequência do curso superior de conservatório da mesma cidade. Foi personalidade sempre ligada à escrita e ao ensino, foi professora do ensino técnico- profissional durante longos anos, encarregando-se também de formação de professores, nomeadamente na escola do magistério primário de Lisboa e no âmbito da literatura para a infância.

Enquanto cidadã, tem- se ainda dedicado, no decorrer da sua vida, aos problemas, aos problemas da criança e á defesa dos seus direitos.
Tendo assim iniciado a sua vida literária ainda no tempo da frequência universitária, Matilde Rosa Araújo colaborou abundantemente em várias publicidades periódicas ao longo das décadas seguintes.

Os seus livros de poesia e narrativa constituem trabalhos significativos da literatura portuguesa para e sobre a sua infância e juventude.
De entre cerca de três dezenas de títulos publicitados, merecem destaque, pela sensibilidade revelada em relação à vivência da infância, obras como: 
- O livro da tila (1957); - O Palhaço Verde (1962); - História de um rapaz (1963);
 - O Reino das 7 pontes (1974); - A velha do Bosque (1983);  As Fadas Verdes (1994); 

Imagem, in (A Arca dos Contos)

O digital e a conservação da informação


De modo a prevenir situações de contaminação de vírus nos computadores das bibliotecas que já se verificaram, a Biblioteca Escolar irá a partir de hoje disponibilizar um mail, para o qual deverão ser enviados os documentos a imprimir. O mail é o seguinte: (bibliocor.imprimir@hotmail.com).

Sugere-se que para a organização de informação sejam utilizadas formas alternativas ao nível do processador de texto ou de apresentações diversas. O gmail permite através do googledocs fazer o upload de documentos, assim como construir de origem o que se faz com os programas do Office.

O Dropbox (http://www.dropbox.com/) ou o boxnet (http://www.box.net/) são alternativas para o arquivo de documentos, solucionando a questão do arquivo e transporte de documentos, sem o perigo que os vírus sempre podem trazer à conservação da informação.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Prémios New York Times


O jornal The New York Times apresentou a sua escolha anual para os prémios de ilustração de livros  infantis de 2011. Conferir a lista e os destaques dos diferentes livros em formato slide show aqui.

A Leitura nos adolescentes

É uma ao mesmo tempo, um desafio, uma dificuldade e uma tarefa que na leitura, nas bibliotecas, no meio escolar e nas famílias se depara como algo a ultrapassar positivamente. Conseguir criar estímulos e oportunidades para que a chamada adolescência pratique a leitura e a realize com gosto. Como dar resposta a esse desafio de uma forma satisfatória?

Andreia Brites, do Blog O Bicho dos livros, deixa-nos algumas pistas que vale a pena considerar e refletir. 

"Em suma, o adolescente não fecha a porta para sempre. Precisa de espaço e autonomia, pelo que não o podemos sufocar com a nossa prestável ajuda, como fazemos com as crianças. Temos também de perceber que está a construir o seu mundo a partir de estímulos diversos e simultâneos. Um livro adorado hoje será odiado amanhã, ou talvez não. E muito provavelmente um livro impenetrável hoje será legível amanhã.

Para lermos com sucesso, temos de relacionar em permanência o que lemos com o nosso conhecimento prévio. Muitas vezes não damos por isso, mas sempre que lemos estabelecemos ligações. Por isso em patizamos com personagens, situações, descrições, ou sentimos tristeza, nostalgia, medo, alegria, solidariedade, revolta. Se o livro estiver noutro hemisfério, para nós totalmente desconhecido, não o conseguimos ler. Pensando nos adolescentes e na instabilidade do seu desenvolvimento, a probabilidade de isto acontecer é muito maior. E é natural que assim seja.

A Promoção faz-se tentando e errando sempre.Muitos frutos não se vêem no imediato, não podemos cair na tentação de verificar se fizemos tudo bem, se o fizermos estamos a controlar a liberdade do outro e deitamos todo o trabalho por terra. Não há fórmulas milagrosas, há caminhos. Alguns não leitores nunca se tornam leitores, e têm esse direito. Muitos tornar-se-ão leitores selectivos, quando chegarem à idade adulta. É um mistério e uma maratona, necessariamente altruísta."(1)

(1) Andreia Brites, "o melhor livro para o meu filho:Quando o adolescente nos fecha a porta", in II Conferência Leitura(s) a meias (via o jardim assombrado.)

Dia de São Martinho

(...) Vinde, porque é de mosto
O sorriso dos deuses e dos povos
Quando a verdade lhes deslumbra o rosto.

Houve Olimpos onde houve mar e fontes
Onde a flor da amargura deu perfume.
Onde a concha da mão tirou das fontes
Uma frescura que sabia a lume.

Vinde amados senhores da juventude!
Tendes aqui o louro da virtude,
A oliveira da paz e o lírio agreste...

E carvalhos, e velhos castanheiros,
 A cuja sombra um dormitar celeste
Pode tornar os sonhos verdadeiros.

Miguel Torga, "Libertação"

(imagem, nos horizontes de Vinhais, no reino dos castanheiros)


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Matilde Rosa Araújo


"Era linda a água vista do sol!
Depois, pela vida fora, a água da fonte foram vocês...
Água pela qual seria capaz de partir todos os copos de cristal».

Adélia Carvalho escreveu um livro de encantamento sobre o universo de Matilde Rosa Araújo, tendo o mesmo sido ilustrado de uma forma muito especial por Marta Madureira. Álvaro Magalhães escreveu o posfácio onde nos dá uma apresentação breve, mágica e simples do universo da infância de Matilde Rosa Araújo.

Um olhar de menina, é uma obra de graça e delicadeza para esse universo da infância, onde ainda a fantasia é uma das possibilidades de construir o mundo e onde se destaca o que quando se cresce parece perdermos. Lembrar essas paisagens, escutar com os olhos e recordar os sons que nos aproxima da voz da infância. E isso é sempre uma reconstrução de nós próprios, "pois cada infância recria também a infância da própria humanidade."

(1) Álvaro Magalhães, "Posfácio", in Matilde Rosa Araújo, Um Olhar de Menina

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Autor do mês


"Gosto mais de escrever para as crianças porque elas dão alegria e inspiração." (1)

Quem a conheceu pelas bibliotecas, nas apresentações de livros, no diálogo com os alunos e quem a conhece nas suas palavras por onde histórias se libertam das sílabas para a imaginação e aí falar com as aves, as árvores, os frutos e as suas sombras sempre se lembrará dela.

Com ela aprendemos uma sabedoria muito própria, em que cada dia é uma possibilidade , e onde os dias precários que vivemos se excedem em momentos e neles a fantasia e a dádiva sempre nos resgataram.

Matilde Rosa Araújo ficou na literatura infanto-juvenil como uma autora de referência para trazer ao real o valor da participação das crianças no mundo onde crescem. As fadas Verdes, O cantar da Tila, O Palhaço Verde, O Gato Dourado, são algumas das suas obras que nos deixam uma ideia valorativa da fantasia das crianças e do seu mundo, naquilo que também todos fomos um dia.
(1) Http://www.publico.pt

domingo, 6 de novembro de 2011

Sentires - Apresentação

(...)
"Há momentos de vida,
Em que amor é fraternidade,
Saudade é prazer de estar
Ao lado de quem nos dá paz.
(...)
Há pedaços de vida vividos
na pausada e serena tranquilidade 
do simples saborear de momentos
passados entre amigos que nos tocam.
(...)
Há pedaços de vida, ainda que curta,
entre amigos que se reconhecem,
amigos que nos calam no peito
porque simplesmente estão cá."
Celso Cordeiro, "aos Amigos", in Sentires

Feira do Livro Infantil de Bolonha

"Conhecer a cultura e Portugal e a tradição ibérica, possivelmente menos conhecida do que a de Espanha, mas certamente não menos importante no que toca ao contributo literário e histórico" , é a declaração de reconhecimento da Bologna Children's Book Fair, a decorrer no próximo ano de 19 a 22 de Março. 

É uma boa notícia para os que promovem a edição e difusão dos livros, das palavras, da ilustração e uma prova de que as "indústrias" da cultura são valiosas e podem dar o reconhecimento aos que nela labutam por concretizar a cidadania. 

Não será só o utilitarismo a trazer valor ao país, nestes dias em que a ideologia dos números e das máquinas dominam as opções de criação de riqueza. 

Ilustrarte 2012

Valerio Vidali é o vencedor da edição 2012 da Ilustrarte pelas ilustrações do seu álbum, "Um dia, um guarda-chuva". 

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Tintin

Um herói muito especial, o que realizou tantas aventuras em tão variadas regiões, o grande viajante, o que no quotidiano revelava a curiosidade dando-lhe as dimensões mais variadas chega agora ao cinema com recursos tecnológicos mais sofisticados. Criação original de Hergé, em 1929, é um testemunho de uma época em que a Europa e os jornalistas eram passageiros da descoberta de novos espaços.

Filmado por Steven Spielberg, a triologia incidirá na sétima arte, com recursos visuais 3D no "Segredo do Licorne", "O Caranguejo das Tenazes de Ouro" e " O Tesouro de Rackham, o Terrível". Tintin renasce aqui com uma dimensão de aventura mais alargada que o aproxima dessa criação de Spielberg "Indiana Jones".

Pleno de figuras fascinantes, de Dupond e Dupont, capitão Haddock e do inseparável Milou, Tintin, as suas aventuras e descobertas são fascinantes na ideia de descobrir o mundo e os seus tesouros. E é igualmente uma oportunidade de reler os velhos álbuns do seu criador. Em baixo o trail desta 1ª abordagem ao universo de Tintin

THE ADVENTURES OF TINTIN - Trailer 2 PT por dmagianet

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A poesia de Florbela - Inês Nascimento - 7ºD


Florbela Espanca foi uma grande escritora e poetisa. Escreveu várias obras e entre elas podemos destacar A Charneca ao Entardecer ou O Aviador. Em poesia Trocando olhares, O livro d'ele, Livro de mágoas, Livro do nosso amor, Livro de soro saudade, Charneca em flor, relíquia e Esparsos.

Gostei muito de ler alguns dos seus poemas e aconselho principalmente na sua obra a poesia. Posso destacar no que mais apreciei, foi a forma como ela retrata os seus sentimentos, como os transcreve para o papel, de uma forma tão intensa que nós ao lermos conseguimos sentir tudo "à flor da pele".

Com a sua leitura ficamos com o espírito mais receptivo a novas experiências. Sentimos entusiasmo para lermos mais e à medida que vamos lendo, vamos compreendendo cada vez mais tudo o que nos rodeia.

Com Florbela Espanca pode-se descobrir como a poesia é algo maravilhoso. Aconselho todos a descobrir este maravilhoso mundo.

Imagem, in http://www.sitiodolivro.pt/

terça-feira, 1 de novembro de 2011

1 de Novembro de 1755


É uma data conhecida de uma imensa catástrofe natural. Mas é muito mais que um acontecimento sobre a destruição da Lisboa setecentista. Ela afirmou na sociedade portuguesa outros terramotos.

O de Pombal que se afirmou a partir do terramoto, uma nova ideia de monarquia, de Estado que sobre uma sociedade impreparada se afirma em dimensões excessivas. A da criação em novos formatos de que o outro, as suas ideias não podem ser integradas. O imenso Estado que temos radica nesta ideologia de disciplinar opositores e converter a diferença, incapaz de ser coerente com ela e as suas formas de expressão. E depois a reescrita da memória.

A criação das narrativas do poder por onde circulam as memórias legitimam para "controlar não só o que se lembra e a forma como se lembra, como também o que se esquece e a forma como se esquece". Mesmo com o crédito do iluminismo, o poder de Estado de Pombal pôde sempre tentar delimitar o tempo e iniciá-lo com a sua governação.

Num tempo global, onde há quem acredite que devemos ter uma única forma planetária de nos exprimirmos, é bom lembrar que são nas múltiplas aldeias que se exprime o valor individual. O homem novo é sempre uma promessa perigosa de quem se esqueceu de estudar a espuma das ondas que pela memória nos dá o que é singular ao homem e à sua natureza.

Rui Tavares, O pequeno livro do grande terramoto, pág. 148